Destrinchar as colaborações do debate soviético sobre arquitetura, invisibilizados no ocidente por conta do imperialismo estaduonidense impulsionado a partir da Guerra Fria que dividiu o mundo após a II Guerra Mundial, é uma das principais colaborações para a área que a exposição organizada simultaneamente entre Brasil, México, Venezuela e Argentina objetiva trazer. Muitas foram as colaborações soviéticas para a arquitetura habitacional, algumas das quais naturalizadas nos conjuntos habitacionais no mundo todo, sem que saibamos a origem desse debate. A exposição ARQUITECTURA HABITACIONAL DE LA URSS: CONCURSO ENTRE CAMARADAS 1926 é fruto de uma parceria entre o MALOCA – Estudos Multidisciplinares em Urbanismos e Arquiteturas do Sul (Brasil) e os grupos BAI – Brigada Acadêmica Interdisciplinaria, da UAM Azcapotzalco (México), Universidad Bolivariana (Venezuela) e Taller Libre de Proyecto Social, da UBA (Argentina). No Brasil, além de outras cidades de diferentes regiões do país, a mostra ira ocorrer entre os dias 07 e 21 de junho, no espaço da Fundação Cultural, e estará aberta para visitação gratuitamente, das 8h às 17h.
Através dessa cooperação transnacional foi determinado entre os grupos envolvidos que cada um realizaria a exposição em sua cidade, produzindo o material com a impressão das pranchas do “concurso entre camaradas (1926)” compartilhadas pelo BAI-México, além de conceber toda a expografia, curadoria e divulgação da mostra. Na montagem em Foz do Iguaçu, destaca-se também o desenvolvimento das maquetes físicas de algumas das obras arquitetônicas detalhadas nas pranchas, permitindo uma maior e melhor interação e compreensão do público com relação ao espaço arquitetônico. Representante do Brasil, o grupo Maloca organizou a mostra internacional em Foz do Iguaçu por meio de um projeto de extensão vinculado à UNILA e coordenado pela professora do curso de arquitetura Andréia Moassab, pelo qual estudantes bolsistas e voluntárias (os) contribuiram também traduzindo o material para o português. É importante destacar que além de Foz do Iguaçu, através da rede de pesquisadoras(es) e suas universidades que integram o grupo MALOCA, foi possível organizar a exposição em outras regiões do país, e assim incluir as cidades de Goiás/GO, Brasília/DF, Palmas/TO, Natal/RN, São João del Rei/MG, Juiz de Fora/MG, Uberlândia/MG, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP e Cascavel/PR, na mostra internacional. Também o MUD – Museu Digital da UNILA é parceiro dessa iniciativa, com a organização da versão virtual da exposição ARQUITECTURA HABITACIONAL DE LA URSS: CONCURSO ENTRE CAMARADAS 1926 que possibilitará que o material digital dessa coleção e suas referências possam ser acessadas de qualquer parte e difundidas internacionalmente pelos grupos envolvidos, em suas universidades e cidades.
“É preciso valorizar, sobretudo, o esforço desses grupos de pesquisa que se uniram para organizar esta exposição simultânea em quatro países, sobre um tema inédito na pesquisa científica na área: aprofundar o debate sobre a arquitetura habitacional na URSS, mais especificamente, trazendo a público o concurso realizado em 1926 sobre esta temática. Vale ressaltar que muito do que incorporamos nos projetos habitacionais nos dias de hoje surgiram no período revolucionário soviético nos anos de 1920. Por exemplo, incorporar equipamentos coletivos às moradias como espaço cultural, cozinha e lavanderia coletiva, ou ainda, creche, ginásio esportivo. Tudo isso, foi algo pensado conjuntamente por aquela sociedade que se desenhava em função de demandas coletivas para a melhoria da qualidade de vida e desoneração das mulheres do trabalho doméstico. As respostas arquitetônicas exploram cozinhas e lavanderias coletivas, creches, salas de estar e quartos de hóspedes comuns, entre outros, conforme mostram os oito projetos das (os) arquitetas (os) Moisei Ginzburg; Georgi Vegman; Vyacheslav Vladimirov; Nina Vorotyntseva; Raisa Polyak; Alexander Nikolsky; Andrey Ol; Alexander Pasternak; e Ivan Sobolev. Lamentavelmente, por conta das ideologias anti-comunistas propagadas pela expansão do capitalismo, pouco se sabe a respeito das realizações soviéticas no ocidente. As diversas práticas arquitetônicas e atuação profissional distantes do regramento do capital e mais voltadas para as necessidades sociais são muitas vezes ignoradas, desprezadas, subalternizadas ou sequer são nomeadas, como acontece com a arquitetura soviética. Resgatar a experiência da revolução russa, portanto, é um ato de resistência, ressignificação e inovação tanto para reinserir um debate sobre produção de espaço não pautada pelo capital, como para apontar possíveis caminhos criativos para a arquitetura de nosso tempo. Portanto, revisitar a experiência arquitetônica da Revolução Russa é tarefa fundamental e urgente para nos auxiliar a imaginar e conceber a arquitetura como um direito e não como mercadoria. A terra e o solo rural ou urbano concebidos como bem comum e, portanto, sujeitos a desenhos de paisagens muito distintos daqueles produzidos para a extração de mais valor e apropriação privada do trabalho, este que é socialmente necessário para a construção do espaço em que vivemos.” Andréia Moassab
Em paralelo à exposição, serão realizadas atividades complementares como a mesa de abertura com a presença da equipe do projeto e representantes da universidade e entidades locais para debater a temática com o público. Durante a programação também ocorrerá a aula aberta ARQUITETURA DA REVOLUÇÃO, com Patrícia Mecchi, Celso Lima e Andréia Moassab. E a realização da oficina de estamparia revolucionária, pelo projeto “Ateliê sem Paredes”, com Tati Rebelatto e Michele Dacas. Está previsto ainda o lançamento da versão impressa do Caderno SESUNILA n.04, dossier “100 Anos da Revolução Russa: Mulheres, Arte e Resistência”. E a visitação guiada de escolas à exposição com Gabriel Cunha e Andréia Moassab. Parte das atividades serão gravadas para posterior edição e publicação permanente no canal youtube do MALOCA. Como desdobramento dessa exposição, em 2023, o grupo Maloca vai estender a sua circulação para o Museu de Arte de Cascavel, como parte das ações de cooperação firmadas neste ano com aquele município. Para Moassab, essa circulação na cidade vizinha tem um duplo aspecto positivo, pois consolida os vínculos institucionais recém-criados ao inserir o trabalho da UNILA num circuito expositivo paranaense, e mesmo tempo inclui o Paraná no circuito internacional e nacional da exposição, que contempla México, venezuela, Argentina e diversas regiões do Brasil.
A montagem da exposição internacional ARQUITECTURA HABITACIONAL DE LA URSS: CONCURSO ENTRE CAMARADAS 1926 na Fundação Cultural, no centro da cidade, visa ampla visitação, buscando que as pessoas melhor compreendam a luta permanente pelo direito à moradia. Ademais, o tema da arquitetura habitacional na URSS é crucial para o debate sobre o direito à cidade e sobre as clivagens de gênero em arquitetura, que são temas atuais e também tributários do debate soviético daquele período. Dessa forma, a proposta de exposição e toda a sua programação, traz reflexões de grande relevância para Foz do Iguaçu e região. Ainda, vale ressaltar a contribuição da montagem da exposição para o ensino, pois essa foi uma oportunidade para que estudantes pudessem aprofundar seus conhecimentos projetivos e espaciais, ao mergulharem nos detalhes das habitações soviéticas a serem expostas para a criação das maquetes.
Em complementação a este rico material, a artista local Tatiane Rebelatto, pesquisadora do trabalho da designer soviética Varvara Stepanova, em conjunto com Michele Dacas, reproduziu especialmente para a exposição, algumas das principais estampas desenvolvidas na década de 1920 pela artista russa. Em sintonia com seus colegas arquitetos e arquitetas, Stepanova produziu, a partir do design têxtil, mudanças radicais no vestuário, abolindo as distinções de gênero e classe das vestimentas, em favor de uma roupa geométrica que libertasse o corpo. Dito de outra forma, há muito a aprender e debater sobre a produção soviética daquele período, o que pode arejar novas investigações em arquitetura, nas artes e no design. Como é o caso dos materiais, obras e atividades que contemplam a programação da exposição internacional ARQUITECTURA HABITACIONAL DE LA URSS: CONCURSO ENTRE CAMARADAS 1926 promovida pelo grupo Maloca– Estudos Multidisciplinares em Urbanismos e Arquiteturas do Sul.
PROGRAMAÇÃO E EXPEDIENTE
Programação
07.06.22 (3f) 19h, fundação cultural, ABERTURA
09.06.22 (5f) 14h30 – visita guiada com Andréia Moassab e Gabriel Cunha
13.06.22 e 15.06.22(2f e 4f) 14h-17h, no CCI/CEJU, Oficina ESTAMPARIA REVOLUCIONÁRIA, do projeto “Ateliê sem Paredes”, com Tati Rebelatto e Michele Dacas
14.06.22 (3f) 14h30-18h, na fundação cultural aula aberta: ARQUITETURA DA REVOLUÇÃO com Patrícia Mecchi, Celso Lima e Andréia Moassab
Expediente: Período: de 07 a 21 de junho Local: Fundação Cultural (R. Benjamin Constant, 62, centro, Foz do Iguaçu) Horário: com visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
Entrada gratuita
PARCERIAS e COLABORADORES
parcerias acadêmicas: grupos de pesquisas de diferentes países como o BAI/UAM (México); MALOCA/UNILA (Brasil); Universidad Bolivariana (Venezuela) e o TALLER LIBRE DE PROYECTO SOCIAL/UBA (Argentina). As parcerias acadêmicas se aprofundam no território nacional, por meio da rede do MALOCA e sua rede de pesquisadoras(es) que abrange as universidades UFT, UFG, UFJF, UFSJ, UFU, UFRN, UFRJ, USP.
parcerias museológicas: MUD – Museu Digital da UNILA; e MAC – Museu de Arte de Cascavel
parcerias com o movimento sindical, com o apoio da FNA – Federação Nacional dos Arquitetos e a SESUNILA – Seção Sindical do ANDES Sindicato Nacional Docente na UNILA.
Colaboradoras (es) / equipe brasileira de Foz do Iguaçu:
coordenação geral, curadoria e produção: Andréia Moassab
coordenação adjunta e produção: Gabriel Cunha
assistência de coordenação e produção: Michele Dacas
criação das maquetes: Rafael Veronese e Ariel Cabrera
criação em arte têxtil: Tatiane Rebelatto e Michele Dacas
designer: Maicon Rugeri
tradução: Amanda Martins, Bia Varanis, Heloise Novacovski
organização e expografia virtual (MUD): Jessica Carlos Pereira e Michele Dacas