A coleção é composta por obras doadas para a UNILA, em sua fase de implantação, pelo artista Javier Guerrero, mosaicista equatoriano residente no Brasil há algumas décadas. A sua arte engajada acompanha a história da UNILA desde os primórdios, já que os corredores do campus da UNILA localizado no Parque Tecnológico da Itaipu receberam os retratos de importantes artistas e pensadores/as latino-americanos/as, feitos por Guerrero.
Nascido em Riobamba, ao sul do Equador, o neto de José Enrique Guerrero (“El pintor de Quito”) tem uma trajetória dedicada a resgatar o imaginário progressista latino-americano, por meio de uma série de retratos de homens e mulheres revolucionárias de cada país de Nuestra America. “Busco contar lo que mis ojos ven, lo que mi corazón siente y lo que mi razón me dice que debo hacer”, declara Javier.
No final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, o Equador vivia momentos de instabilidade política e social, com golpes de estado, governo militar e governos civis neoliberais, fortemente ligados aos Estados Unidos, com um aumento da corrupção e da violação dos direitos humanos. Neste período conturbado, Guerrero participa da luta político-militar, junto à organização Alfaro Vive (AVC), chegando a ser preso e torturado.
Neste contexto, autoexila-se em Curitiba, em 1989, cidade na qual vive e trabalha até hoje. Com uma visão social da arte, este “brasileiro nascido no Equador” traça um profundo diálogo com a tradição muralista mexicana de ocupar os espaços públicos, onde, usando mosaicos, conta histórias de luta e liberdade para a população.
“A realidade me obriga a fazer isso (obras políticas), e não peixes e flores, por exemplo. García Márquez falava que queria o socialismo o quanto antes para poder escrever algo que não fossem apenas tragédias”, compara.
Em 2024 o artista retomou a sua conexão com a UNILA para tratar de um livro em desenvolvimento, no qual relata com sua obra em cerâmica mais de 40 poetas de todo o continente. O trabalho de Guerrero é uma síntese da UNILA, colaborando, por meio da arte, para resgatar um horizonte utópico para a América Latina, algo cada vez mais urgente.